No Kung Fu eu aprendi várias coisas além de chutar cabeças de um modo eficiente.
Aprendi a não ficar no chão.
Está lá eu no ring treinando com alguém muito maior e mais forte do que eu ( eu era a única menina da equipe de luta ).
Cada round de 8 minutos , um treino pesado demais. Quatro rounds direto...sem parar.
No inicio você bate, bate, bate. A montanha nem se move. Então você apanha, apanha e apanha.
Tontura...lá pra metade do segundo round você já começa a não sentir as pernas.
Eu sou pequena demais para as luvas masculinas...eram pesadas demais então no inicio do terceiro eu n agüentava levantar a guarda, não conseguia levantar os braços e apanhava na cabeça.
Aí começavam as quedas...eu só queria cair e ficar lá no chão descansando.Mas ele não deixava...alí não tinha vencedor ou perdedor...eu tinha que de qualquer maneira agüentar o treino até o final.
Essa era a proposta.
Mas eu caia toda hora...sem força pra chutar, pra socar...parecia que apanhar era a melhor opção do que tentar mover os braços ou as pernas...elas não me sustentavam e eu caia...na quarta queda eu cismava em não levantar...ainda no inicio do terceiro round.
Ele me chutava, me xingava, me sentia humilhada...mas isso faz parte dos treinos.
Parecia as vezes que era melhor a humilhação do que levantar do maldito tatami fedorento.
Eu as vezes não entendia por que eu deveria levantar.Pra tomar mais um jeb-direto na cara...quase engolir o mordedores ( pra proteger os dentes ).
Hoje eu entendo mais não sei explicar.
Ficou automático, cair levantar, cair levantar, assim, mecânico.
Ela pequena...com o corpo feito apenas de músculos e ossos.
Muitos ossos, ela adora sentir seus ossos...e imaginar que apenas uma pele pálida a diferencia do que ela costuma se sentir : um punhado de ossos secos armados numa estrutura humana.
Ela aprendeu que é feio mostrar isso para os outros.
As pessoas parecem ter medo desse lado dela. E ao mesmo tempo fascinação por um outro lado...
O lado do vigor, ela exala um vigor...coragem, força...paradoxalmente com aquela imagem esquelética de fraqueza.
Ela parece um pássaro rápido demais.
Brilha forte demais as vezes...e se apaga subitamente.
Se anula...ela tem medo de desaparecer.
De começar a voar e não ter mais a maçaneta do carro para segurar...e vagar pelo céu.
Cair pra cima.
Ela não entende de onde veio essa leveza insustentável.
Esse paradoxo.
Ela sente-se um nada porque faz parte de tudo.
Mesmo assim...algo diz que ela precisa se segurar!
Ainda não é tempo de voar assim eternamente...
As pessoas sentem um misto de repúdio e fascinação.
Ela ta cansada de saber disso.
Todos se enxergam nela.
E ela não se vê em ninguém.
Egoísmo?
Sei lá...acho que meus defeitos são drasticamente sutis.Isso que é o pior...eles se escondem de mim.
- Então ela acaba achando que possui todos os defeitos do mundo.
E que sua qualidade é uma virtude fora da lista.
Ela não quer despertar dó de ninguém.
Nem piedade, nem compaixão.
Ela não precisa disso.
Talvez precise de pessoas querendo aprender a voar...e colocar mais gente no céu.
Mas ninguém acredita que ''para voar basta errar chão''...
É tão simples.
Ou é preguiça de descer das estrelas...então fica tentando montar uma escada idiota para alguém subir.
Então ela pula lá de cima...
e cai.
Dessa vez não há quem a levante.
Ela só quer fazer parte da terra.
Obrigada.
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quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Estranho à Terra
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Um comentário:
as mãos de jesus levantam, sempre.
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