segunda-feira, 28 de abril de 2008

O tempo destrói tudo

''Liege, puro fel.''

Quanta tristeza inútil, fraqueza, desgosto, agressividade, palavras ácidas.
Quanto azedume há em seu coração quando você descobre ao longo da vida, aos poucos, que você nunca amou ninguém, nunca amou nada, nunca fez nada para sí mesmo, e sim para seu egoísmo...
Que você nunca se dedicou a nada por muito tempo.
Que você desistiu fácil das coisas importantes, e se prendeu a coisas desnecessárias.

Quando eu era criança gostava muito de brincar sozinha de playmobil.Montava uma cidade grande no meu quarto de modo que não houvesse mais espaço para ninguém andar.E ficava absorvida alí por histórias e tramas interessantes e complexas.Tinha uma bonequinha de cabelos laranja que veio com um conjunto de playmobil da série esportes radicais, ela andava de skate e tinha roupas legais.Ela era sempre a mesma, as histórias que mudavam.Parecia um pouco com novela mexicana.
Era a garota pobre abandonada pela família, meio marginal, jeito masculino mas charmoso, brigona, não gostava de expressar seus sentimentos...sempre se apaixonava por um garoto bonito que inicialmente não olharia para cara dela, mas ele descobre quem ela é de verdade e se apaixona, e fica aquela enrolação por horas, um tentando evitar o sentimento pelo outro...até que fica inevitável.Bla bla bla.
Ainda tenho vontade de montar as cidades e ficar brincando sozinha.

Por que tanta auto-destrução?
Minha mãe disse que eu tenho raiva da vida.
É porque ela não é da forma que eu gostaria que fosse.
Cada dia descubro mais uma coisa que não é da maneira que eu queria que fosse.
Eu sou mimada e criança.Não quis crescer até hoje.Preservo meus valores de criança.E o jeito teimoso, brincalhão, frágil, inseguro, curioso, afobado,complusivo, sem conhecimento de limites, respeito a limites, ingênuo.

Carcaça

O que eu sou, pareço ser, acho que sou...nada disso sou eu.
São amontoados de egos famintos e agressivos sufocando qualquer coisa que seja eu aqui embaixo.
As pessoas se apaixonam por meus egos...somente isso.
Eu me apixonei por meu ego.
E deixei ele crescer...e ele chora demais quando é ferido, me domina, engole montanhas e pede oceanos...e eu dou, cedo tudo,engulo o mundo para ser grande, vaidosa, mais forte, mais bela inteligente...mais diferente. Unica. Singular.

Eu sou pequena.Muito.
Frágil, simples, com defeitos e qualidades como qualquer outro ser humano.

E agora?
Estou aqui, numa fase infértil da minha vida.
Descabelada, minha pele está feia, estou com kilos a mais que eu gostaria, sem praticar esportes, sem ânimo, sem amores, sem muitos lugares para ir, sem religião, sem nada para me orgulhar...
Nessas horas eu olho para o espelho e me vejo fisicamente feia, e todas as qualidades superficiais caem por terra...as coisas que faço, que não faço, que fiz...
Então não há mais o que valorizar, não há feito que segure valor nessas horas.
A sorte que tenho é que o verdadeiro valor aparece quando você se lembra que o que o amor surge quando você valoriza as coisas pelo que elas são não pelo que elas fazem.

Eu não sou meu cabelo
Nem meus piercings e tatuagens
Nem meus anos de kung fu
Os livros que li
Meu curso de faculdade
Minhas religiões
Os amores que vivi
Não sou minhas dores
Muito menos meus pensamentos.

Eu sou algo que existe quando isso tudo se cala.
Quando os desejos e os medos param de brigar
Os anseios...
Ah, eu sou tão grande quando não sou nada!

Há mais espaço quando tudo fica vazio.



Esvazie.......

sábado, 26 de abril de 2008

Agridoce

Não sei explicar...mas meu desapontamento com tudo cresce vertinosamente, mas surge a possibilidade de que eu escolha ( novamente as escolhas ) não me importar mais...deixar acontecer do modo como as coisas são - absurdas para mim - e ser como tudo é.
Seria um suicídio.Mas acontece ( ou não ).
Suicídio de princípios, troca de valores...adaptações.Esse é o modo mais fácil caro amigo, o modo mais difícil é burlar tudo e manter minha integridade, isso requer que eu anule e estirpe certos impulsos...entende? Não, estou sendo vaga e subjetiva demais.

Sempre fiquei a procura de alguém para mim.Alguém que me satisfizesse...o que me satisfaz? Qualquer coisa que me surpreenda, aguce meus sentidos, minha mente...alguém que me deixe agir naturalmente.Achei pessoas assim mas as circunstâncias boicotaram qualquer coisa, desde então fico numa procura estúpida e frenética por essa satisfação.Me perdi.
Perdi pedaços de mim.Me perdi em pessoas, hábitos, prazeres que não significam nada para mim.
Hoje, em muitos lugares que vou sou olhada e observada.Tiro suspiros...sim, me tornei uma menina atraente, com uma tatuagem nas costas, cabelos charmosos...eles olham para mim com desejo, meu ego cresce. Olho no espelho, ajeito o cabelo, ajeito a coluna.Eles gostam do meu piercing na língua...e meus outros.
Gostam do meu jeito espontâneo e agridoce.( é...Agressivo e doce )
Jogos de sedução...sorrisos, até aí eu sou eu.
Até eu me envolver.
Odeio me envolver, vou me desgastando, preocupando...e a atração se perde.
E parto para outra, e outra, e outra, e outra.
Descubro que não sinto mais prazer, e que isso não faz sentido, nada disso faz diferença.Então meus olhos se perdem em divagações como você já viu.Se perdem olhando a fumaça do cigarro...nas espumas do café...no cheiro do ambiente.
Então vou entendendo que tudo está podre, doente.
Vejo a mesquinhagem por trás dos atos. Vejo os impulsos soltos violando várias coisas...e vejo pessoas se perdendo da mesma forma que eu.Vejo que elas buscam o mesmo que eu...que no fundo elas não sentem mais prazer, apenas se convencem dele, é mais fácil. Difícil aceitar que sexo não dá prazer, que gozar não dá prazer.E o que dá? Para mim seria um conjunto de coisas que eu não vejo mais...vejo coisas separadas.
O prazer do sexo alí, do amor em outro lugar, das boas conversas, do entendimento, dos gostos e hábitos, dos interesses...as pessoas são muito incompletas.Essa é a realidade.
Mas eu sou completa.
Me sinto portadora de tudo isso.

Vejo a infidelidade, a vulnerabilidade, auto-enganação, futilidade, densidade mal direcionada, mesquinhagem, falsidade...vejo pessoas brincando de gato e rato.
Vejo pessoas colecionando pessoas.Me vejo colecionando pessoas.

Amigo, sei que o problema está em mim em algum lugar, talvez a forma que eu entendo as coisas...mas cansei de beber para sentir vontade de fazer sexo, cansei de ficar com alguém por não ter mais nada para fazer, de buscar meus relacionamentos mal resolvidos e cavar as sepulturas me alimentando de cadáveres de passados mortos.Cansei de me mostrar...de arrumar o cabelo para sair, colocar uma roupa bonita, não comer demais para não engordar,cansei de ser atraente e interessante. Sinto vontade de raspar a cabeça, andar igual homem e ver quem vai enxergar em mim o que eu sou de verdade.Mas isso não existe, eu seria hipócrita pois ate mesmo eu me importo com aparências, contemplo belos corpos e sorrisos atraentes.

Se eu pudesse pegar as coisas que amo nas pessoas que amo, de você eu pegaria os belos olhos...suas mãos, seu jeito carinhoso, seu sorriso, suas brincadeiras, e o tanto que você se conecta fácil comigo.De fulano eu pegaria a química sexual, de outro a inocência, a pureza, a delicadeza, a segurança, a fragilidade, a criança, o homem, a dificuldade que pede ajuda, aquele que se permite ser observado por uma fresta, as palavras, os suspiros, os silêncios, a violência, aquele que se esconde, aquele que se preocupa, que se dispõe, que me observa quando eu não estou olhando. Aquele que sabe como tocar no meu rosto, como me desarmar, como destruir minhas barreias, que me deixe respirar e voe comigo.Que deite na grama e olhe para o céu...que me ligue para contar dos pesadelos.Que escolha o lugar para qual vamos ir.Que pergunte no que estou pensando quando eu estiver calada.Que me faça querer saber sobre seus pensamentos no silêncio.Aquele que tem o olhar que me intriga, me atrai, me conforta, me descansa, aquele olhar que penetra nos meus olhos.
Aquele que não se importe de ouvir minhas baboseiras filosóficas e entenda que meu pessimismo as vezes é o que me ajuda a escrever, essencial para mim...e que também sou otimista.
Que seja ligeiramente a moda antiga...só para brincar um pouco de casal apaixonado enquanto o amor amadurece.

Coisa demais, não? Difícil achar alguém assim.
Mas eu não me contentaria com menos.

Amo você desde a primeira vez que te vi.
Mas não vou corta-lhe em pedaços e tirar o que quero para formar meu ''namorado'' perfeito.
Prefiro ter você assim, amigo incondicional.
Fico feliz ao teu lado.

Ate breve, sim?

Ela

Meio-diálogo

1

Novamente estou sozinha. Lembro-me do tempo que eu era criança e a solidão não me assustava, brincava horas sozinha sem me lembrar que não havia mais ninguém comigo.Hoje sinto uma necessidade absurda de conversar mas é como se todo meu diálogo fosse embora no ar...poucas pessoam captam minhas palavras então preciso falar demais e pareço redundante.Queria apenas poder ser setida nas palavras poucas e essenciais...ah, caro amigo, como anda me faltando o essencial.
Seus olhos me supriram de compreensão e me senti mesnos deslocada.
Penso nos momentos que espero onibus no ponto, fico tão ansiosa...tão angustiada.Queria que essa angustia da espera fosse embora...
Queria ser mais leve, mais nítida. Fico feliz por você me enxergar, mas poucas pessoas me enxergam.
Estou desgastada, deixei várias pessoas passarem por mim e arrancarem coisas que eu não podia doar, pois me faltavam...e o que eu quero doar ninguém quer receber, então fico inadequada ou metida em relações injustas.
Pouco sabe sobre mim...ou muito sabe. Talvez sinta o essencial sobre mim.

Sei que carrego um semblante melancólico lá no fundo do meu olhar atento...em um corpo fechado.
Como você carrega olhos cansados e um olhar indiferente.
Nossa faxada é bem assim...
O que sabem os outros sobre nós? Sabem atraves de julgamentos equivocados.
Logo, não sabem nada.

E o que você sabe sobre mim?
Depois eu lhe perguntaria : o que sabe sobre você?

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Overdose

Estou começando a achar que meus remédios me colocaram num profundo sono horizontal.
Deixá-los me coloca no meu ser: mágico, inconstante e frenético.

Saio de mim e me vejo de longe, é isso...como sou radiante sem remédios nem pessoas.
Na verdade sem paixões, ou vícios.
Isso se chama liberdade.

De ser eu mesma.
Hiperativa, louca, atrapalhada.

Essa é a parte bonita, a parte feia é que todo alto tem seu baixo.
Mas forçar um equilíbrio químico com eu mesma não deu certo.
Fiquei numa fase de torpor, morbidez.

Tudo começou quando meu gato sumiu com meu aldol.
Acho que ele tomou todo e ficou doidão.
Então taquei o lítio pela janela...e o lexotan foi abolido de meus sonhos.
Imipramina, Risperidon, Ritalina...
Diazepan.

Meu dia dura mais. Minha energia explode.
Não tenho com o que gastar tanta energia...minha mente dilata.
Então eu preciso caminhar mais, e de ter mais silêncio.
Para ouvir cada voz na minha cabeça, e ir aos poucos silenciando-as.

Meu sangue natural é uma overdose de energia na qual meu corpo ainda não está acostumado.
Minhas emoções são como devastações seculares.
Minhas idéias são pássaros desesperados.

Agora me guardo para não me viciar em remédios e vícios para conter esse cataclisma.
Para não me perder em químicas, psiquiatras, psicologos, amores, namorados, manias.

Está na hora de me fechar um pouco por um lado.
Tenho muita energia, mas se colocada num desses ítens ela acaba como num segundo...se esgota e meu brilho se esvai nas paixões diversas.E fico feia, desgastada.
E tudo que eu queria se desmancha no ar e sobra eu sem nada nas mãos, sem eu.

Prefiro ficar sem vocês.

domingo, 6 de abril de 2008

Coleção

Possuo uma coleção estranha...
de lembranças e de coisas que se esvaem da minha mão como se eu quisesse segurar água.
Lembranças de momentos doces e dos árduos que o seguem...os desesntendimentos, as brigas e os finais.
Depois fica toda a carcaça de lembranças, os ônibus que pegava, os lugares, as comidas , as piadas, os livros que devemos destrocar...é sempre assim , com todos...ate formar essa sórdida coleção de tempo curto intensidade e machucados, cortes nos meus braços e até uma grande árvore dolorida....dor, dor, dor.
Minha coleção é feita de dor.

Espero que apareça alguém algum dia que jogue tudo isso fora e me faça sorrir surpresa e espantada e não me dê um soco no estômago depois.
Que me faça sentir especial e adequada, que tenha paciência com minhas dificuldades e saiba me fazer sentir bem pára que eu possa estar segura o suficiente e mostrar a minha grandeza, o meu lado encantador e radiante.

Mas não...está todo mundo com pressa demais.

E a coleção aumenta.

Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão. -
Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )
Quero solidão.