domingo, 4 de outubro de 2009

Personagem

É sempre assim, eu começo escrevendo aqui e depois paro...e começo outra vez como se eu fosse outra pessoa. Releio meus textos e me sinto alienígena de mim mesma e a pergunta mais freqüente : eu já fui assim?

É tão grande e intenso meu movimento interno, meus contrastes de opiniões todas no mesmo cérebro, uma máquina de mudança, uma inconstância que até incomoda. E se é complicado para mim, imagina para os outros?

Ás vezes quando não, sempre, sinto vergonha dos meus atos passados. E é estranho porque acredito que na época do ato eu tinha plena convicção de que aquilo era o certo, ou o bom.
E quando acontece essas crises de vergonha e arrependimento, é uma resistência tão grande a mim mesma que começo a transpô-las para as outras pessoas e achar que elas me reprovam, quando quem dá a sentença sou eu mesma.

Escrever sempre me trouxe um pouco de luz e direção, ainda mais que às vezes eu nem me lembro da minha opinião passada, e escrevendo consigo dar uma linha do tempo á minha vida, e propor mudanças mais conscientes do que aquelas que me pegam de surpresa.

Onde, quando e como devo mudar. E Se devo mudar.

No momento acho que preciso fazer várias coisas de modo diferente.
Vale sempre relatar para não esquecer amanhã todas as coisas que gosto, tudo que admiro, as coisas que acho que eu deveria mudar ou valorizar em detrimento de outras. Escrevo sobre as coisas que eu deveria pensar, ou as que deveria esquecer. Como se no papel eu colocasse a descrição da personagem que devo interpretar...E acho plausível já que concluí que a gente nunca é algo fixo...sempre somos o que queremos ser. Bem...essa é a verdade pra mim, até o dia que eu mudar de opinião. (No final das contas sou sempre uma extraordinária contradição impostora)

Penso nos meus erros, tento não me corroer de arrependimento e sim desenvolver meios de não errar mais.(Até agora não deu certo)
Talvez essa minha mudança interna seja responsável por eu nunca estar no mesmo lugar ou com as mesmas pessoas. E nem é culpa das pessoas...eu que sempre sumo, me afasto.

Pessoas, livros, teorias, faculdade, comida, roupa, modo de falar, humor, crença, horários, lugares...tudo isso varia tão fácil.

Às vezes evito pessoas só pelo fato dela ter me conhecido numa fase na qual tenho lembranças ruins...porque a pessoa me faz lembrar de um ‘’eu’’ que não gosto mais. O individuo não tem nada a ver com isso, mas às vezes chega ser o suficiente para eu me sentir incomodada, desconfortável. Esse aspecto tenho que mudar. Dar mais atenção às pessoas e não ao meu mundinho interno e suas esquisitices.

Demasiadamente egoísta, criativa, instável. É assim que me estabeleço.
Sempre falando e pensando em mim...e como algo distante na qual observo. Eu não passo de um personagem que criei quando me separei de mim. Converso com paredes e espelhos...me imagino no palco. Quando quero mudar escrevo no papel meu novo personagem. E o interpreto no dia seguinte.


Agora é 01:06.


Liege

domingo, 5 de julho de 2009

Bastidores

E nos bastidores de toda a história...ela timidamente omite uma outra ferida....uma outra chaga , mais ardente talvez...e menos digna , menos bela....que ela carrega sem honra alguma...
São chagas mais ocultas...pouco explícitas...talvez apenas aos olhares mais atentos...talvez essa seja tão específica que só os que compartilham feridas semelhantes podem identificar um ao outro.
Ela abre lentamente a blusa de botões madre-pérola....e colocando a mão sobre a pele branca...ela indica a ferida....no peito , mais a esquerda. Então ela abre a costela e desnuda um horizonte vermelho e úmido....e lá no centro...ela indica com os dedos os restos de um coração que fora deveras apunhalado...cena dura demais aos olhos. Ela entenderia o repúdio à cena...então pede que feches os olhos...segura delicadamente sua mão direita....e leva à sua bomba cardíaca falida...que , no entanto , mesmo machucada , bate rapidamente , fortemente...ela o faz acariciar esses restos machucados...faz com que toque duas grandes feridas meio abertas e meio cicatrizadas...e muitas outras cicatrizes alvas...todas elas feitas por sinceros punhais escondidos por detrás de olhos amenos e agradáveis...por detrás de palavras sinceras....por isso agora ela tem medo de palavras , medo de olhares carinhosos...medo de toques de desejo...de beijos molhados...
Bem-vindo às feridas vergonhosas e amargas. Pois existem as feridas dos honrados pela vitória sobre a batalha da condição humana....eis que existem também os feridos com vergonha das lágrimas nos olhos e horas passadas em vão..pensamentos noturnos e perguntas sem respostas.
Porém...ela aprendeu a suportar essa dor com uma falsa dignidade...falsa porque por vezes essa dignidade some no escuro da noite , sobre a solitária cama e sob cobertores espessos...então ela despensa a dignidade e assume a vergonha de ter naufragado como uma criança e deixado que fizessem feridas em seu pequeno coração de menina...
Mas ela é da raça dos insensatos , da raça dos que costuram as próprias feridas...fecham as costelas e olham para o horizonte como se fosse novo...e caminha por entre campos de flores com alegria no olhar..respirando este perfume doce...e imaginando quando aquelas marcas também se tornarão flores...
E ela volta a acreditar em olhares e em palavras.
Pois ela a cada dia aprende não a não naufragar....e sim a se afogar com dignidade.
...falsa? sim...
Mas tudo que repetimos várias vezes pode tomar o caráter de verdade.

Ela às vezes sente dificuldade de respirar.
Mas possui um ser tão forte e convicto que sabe como carregar a si mesma , suas feridas ocultas ou não , seus dramas e tragédias e comédias...seu ser carrega com vitalidade.Mesmo que caia uma vez ou outra.Ela assume as conseqüências de existir com honra.

Liege Simon Adjuct

Alternativa número três

O interfone tocou : Correspondência registrada.
Desce alguém para pegar e assinar.
Esse alguém sobe...abre a carta.
Era uma intimação. Ela deveria comparecer no dia seguinte , ás 8 horas da manha e um tal lugar.
Curiosidade.Mau pressentimento.

Dia marcado , 8 horas. Ela deveria ir sozinha e levar a carta.
Sala pequena , aspecto frio.
Uma cadeira dura de aço polido.
Uma porta preta.
Uma placa na parede ‘’ sala de espera ‘’.
Mais nada.

A porta se abre.
Ela entra.

Uma sala ampla.
Quase vazia. Uma mesa de madeira escura , um computador. Uma cadeira aparentemente confortável , couro preto. Alguém sentado nela.
Esse alguém olhando para o computador pede para que ela sente-se na cadeira do outro lado da mesa. Novamente cadeira dura.
Ela senta.
Ele finalmente pergunta :
- Louise Lyncax Lion ?
- Sim.
- Preste bastante atenção. Disse o homem fitando o olhar da garota friamente.
O homem era calvo , olhos castanhos. Rosto quadrado , queixo protuberante.Barba bem feita , pescoço esguio , posição ereta. Óculos.
Nem feio nem bonito. Ela não chegou a decidir sobre isso...pois ele começara a falar algo que tomou toda sua atenção e fôlego.

- Você esta sendo formalmente acusada por perturbar a ordem e a sanidade mental do seu ambiente de contato. Por pensar contrariamente às normas do nosso sistema e da nossa sociedade. E por influenciar e fomentar outros cidadãos a pensarem de tal modo , que por sua vez é incorreto e não adaptado.
Você também esta sendo acusada de inadaptação ao seu meio.
Tememos que sua doença mental seja contagiosa.

Ela estava estática , nunca imaginara que existisse um padrão fixo de pensamento e atitude.Mesmo sabendo que havia certos critérios para separar uma coisa ‘normal’ de outra ‘não tão normal assim’. Mas não sabia que agir e pensar contra tal ‘norma’ era contra alguma lei ou regulamento.Ela era inocente e acreditava na liberdade de expressão.Ao menos sempre ouviu falar que tínhamos direito à ela , ou no mínimo de falar e pensar do modo que quiséssemos. Por isso ela estava estática...parecia um pesadelo , ela queria rir , contra-argumentar com muita veemência. Acordar! Mas algo parecia diferente , algo a fazia sentir que não , não era um sonho. Nem pesadelo. Era uma realidade que até então ela não conhecia. Uma parte do sistema que poucas pessoas deveriam ter conhecimento : O Centro Regulador.
Parecia filme , seriado , novela...tudo , menos real.

E isso tudo ocorreu-lhe em segundos enquanto o homem tomava ar para continuar a falar friamente.

- Você , Louise Lyncax Lion , está sendo formalmente expulsa do sistema.
Mas o Centro Regulador lhe dará três alternativas para dar continuidade à sua vida.
Ele continuava falar sem dar espaço para qualquer contra-argumentação.
Ela estava de boca aberta , olhos arregalados e uma sobrancelha arqueada em sinal de extrema dúvida e assombro. Seria cômica sua expressão , se o contexto não fosse trágico.

-Alternativa um : Você tem será transportada e encaminhada para um centro de recuperação mental. Lá a tratarão com os cuidados necessários para erradicar seu distúrbio e sua incoerência.Ficará num quarto confortável com livros e filmes à escolha do Sistema para complementar sua Adaptação.Terá dieta regulada , atividades físicas moderadas. E usará um aparelho de monitoração do seu pensamento.

( Nesse momento ela se pergunta : Isso existe? )

Sua saída só será permitida após nove anos de treinamento adaptativo.E após nove rígidos testes para comprovar a eficácia do tratamento de modo positivo que não deixe margens para erros , nem que você possa dissimular uma mudança.

- Alternativa dois : Poderá ser imediatamente encaminhada para um hospital onde será feita uma lobotomia retirando cirurgicamente a área afetada do seu cérebro. Incluindo mudanças com uso de dispositivos que serão implantados no seu sistema límbico : Amígdala , Hipocampo , Hipoálamo , Talamo , e nas demais áreas diretamente relacionadas.Além de uma medicação de controle.
Em duas semanas poderá voltar para casa onde ficará sendo monitorada durante um ano para a verificação dos resultados.

- Alternativa três : Poderá ser deportada.
Colocamos três países à sua escolha :
Namíbia : África
Iêmen : País árabe que se encontra no sudoeste da península arábica.
Cazaquistão : País oriental.

-Você tem uma hora para decidir.

Neste momento o homem olha no relógio e diz: Começando agora.
Ele levanta-se , aperta um botão desligando o computador , e sai da sala.

Louise permanece por uns cinco minutos num estado indefinido.
Após isso ela começa a pensar , seu cérebro vira uma máquina jorrando pensamentos e emoções , dúvidas e iniciando o estado de pânico.
Mas ela sabe que o tempo esta passando e não tem tempo para divagações.
É necessário escolher.
Ela pensa em como fugir : impossível.
Fingir desmaio? Não...
Suicidar? Não!

Quando ela tenta levantar para usar o computador , uma luz vermelha pisca no teto e uma voz metálica surge de algum aparelho de som situado na sala : Sente-se , não será permitido usar qualquer objeto da sala.

Ela senta.

De súbito...uma pontada de gelo surge no seu órgão bombeador de sangue. E esse frio tenebroso quase doloroso se espalha pelo seu corpo , chegando na cabeça ...ela sente tontura , começa a suar. Mesmo não sentindo calor. Ela sente que falta ar.
Fecha os olhos com força e abre novamente : ela continua na mesma sala.

Vamos , faça uma escolha! Pense! – Diz para si mesma.

Hospício? Nunca!
Lobotomia? Nunca!

Mas que países estranhos!
África? Fome...aids....guerras. Não.
Iêmen? Pessoas fanáticas. Não.
Vai o Cazaquistão mesmo...

Nessas horas um Atlas faz falta...ou ter prestado atenção nas aulas de geografia...merda!

A porta se abre.
- Já se passou uma hora. O homem entra na sala.
Qual sua decisão?

- Terceira opção , Cazaquistão.

Ela sente que seguram forte seu braço , o homem não entrou sozinho.
Sente uma picada...tudo escurece.
Perde a consciência.

(E mal ela sabia que a escolha não fora sua...já haviam escolhido para ela.)

O Parto

Era dia , ensolarado e quente
Seu corpo suava,
Seu peito mal suportava o movimentar frenético da respiração eufórica.
Parecia que ia morrer...mas não...
Naquele momento ela acabava de nascer.

Olhava-se no espelho.
Olhos fixos nos próprios olhos refletidos...lábios entreabertos.
Contemplava seus olhos vazio porém inundados...
Esse vazio era peculiar , diferente...era um vazio fértil...e ela sentia a dolorosa semente penetrar na terra de seu ser , terra úmida regada do seu próprio suor e sangue...uma terra virgem e vazia a espera da semente do despertar.E a semente despertava naquele momento...

O Despertar é sempre doloroso...porém uma dor libertadora.
A dor de ser livre.

Aquela semente naquele momento se rompia para surgir o broto...
E doía , doía , doía....

Como um recém-nascido ela gritou, colocando o rosto dentro da água que empoçou na pia e gritou.
Um grito silencioso , abafado , afogado...mas vivo.

Ela acabara de suicidar.
E de fazer o próprio parto.

Era esse apenas mais um dos seus processos contínuos de auto-destruição e autoconstrução.
Morte seguida de vida e de morte e de vida.

Ela se lapidava como quem fazia uma escultura de forma perfeccionista.
A perfeição não era utopia.Mas horizonte e destino.

Porém...havia algo que a acompanhava neste contínuo processo e sobreposição de acontecimentos internos e externos chamado: vida.
Era uma cicatriz eterna , grande chaga dolorosa em seu peito...seu estigma.
Ela tinha uma doença.

Era o que ela via agora diante do seu ser re-nato.
Cada vez mais nítida que nunca.

Liege Simon Adjucto

Das Beste ( O mais importante )

Então meu ser diz para mim : ‘se eleve! Suba a montanha , ao cume...no topo...de lá tu verás melhor! Verá o todo , tudo como uma máquina que gira cheia de peças complexas fazendo um Absoluto...um absoluto caos organizado , você sabe...’

Eu sempre sei o que meu ser quer...mas nesse caos urbano de vozes internas e externas...de emoções, desejos ânsias...todas essas coisas que não fazem parte de mim...tudo isso confunde a trajetória.Confunde a voz mais real e pura de todas.

Talvez você já tenha sentido que no meio do caos que se instala dentro de você...no meio de emoções, hábitos, vícios, sentimentos, pensamentos, desejos e medos...parece que quando você sem querer para de ouvir todo esse caos uma voz parece sobressair...e você se sente em casa nesses curtos segundos que duram tão pouco...porque essas coisas costumam acontecer muito rápido. Quando você está andando na rua distraído...quando está no ônibus com o olhar perdido...ou quando esta olhando pela janela...ou uma flor, ou o céu..paisagens...figuras...quando você pára para respirar e faz com que seu caos te dê um tempo. Quem já conseguiu isso? Sabia que tem como tornar esse momento uma plenitude? Eu acredito que sim...ou que pode ser mais facilmente acessível....como um recanto secreto que ninguém mais conhece, seu lugar especial...somente seu.

O refúgio

Meu recanto é uma clareira numa floresta bem estranha...cujas árvores são grandes e agregadas...cujo solo de terra úmida se mistura com folhas secas fazendo surgir um cheiro característico...é nessa mesma terra que enfio meus dedos tentando me enterrar e me sentir parte dessa floresta singular que ninguém nunca viu a não ser eu.
Acontece quando abro a porta do meu quarto e encontro um campo verde imenso...e um céu absolutamente azul....e caminho por ele , já de pés descalços...ate chegar à minha floresta...no inicio caminho...depois começo a flutuar porque perto da minha clareira um tapete de flores cobre o solo...e eu me nego a pisar nelas...então vou vagando ate o lugar aberto...em cujo centro uma grande pedra se estabelece...pedra fria que abraço em certos momentos...que me sustentou por vários outros. Aquele solo macio me cobre...e chove nessas vezes em que eu resolvo me sentir parte dessa terra negra...então tudo fica molhado e me sujando com essa terra me sinto mais limpa....enfio os dedos na lama sentindo a vida por baixo disso tudo...e permito que os insetos andem sobre minha pele...aranhas, larvas...e todas as coisas vivas que por ali estiverem....e os lobos sempre aparecem para lamber meus olhos úmidos.As aves...e o espírito das plantas...

Ali eu sinto meu ser na íntegra...
Estou a construir novos lugares...um deles é meu campo de girassóis...
Você deveria ter os seus.
Nesse meu lugar eu me limpo da humanidade...e de qualquer coisa, qualquer agregado....qualquer sentimento é absorvido pela terra...qualquer lágrima é consumida pelos lobos, pelas feras...e eles me libertam...e eu fico ali...meditando e contemplando.

A altura.

Liege Simon Adjuct

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Metalinguagem

Eu não sei bem de onde veio
só sei que aqui está
essa vontade de dizer
algo que não quer se calar.

ó, mas que poesia fútil!
Que rima inútil.

Tu gostas de poesia?

Olhares, palavras, sim, não.

Mas o prazer é descomunal.
Caminhar, conhecer, amar e desamar.
Me soltar em pedacinhos de folhetos e letras e desenhos.
Para que um olhar atento se atenha, e me diga, e me fale, não importa o preço.

Assim, sem chefe, sem uniformes, sem horários...
Onde posso ter tatuagens e cabelos de fogo.

Onde eu menos espero encontro um diálogo sincero.

Meu propósito além de me espalhar como pólem ao vento?
Com palavras ás vezes tristes mostrar que a amargura é só um lado da felicidade, nem melhor, nem pior , do lado de dentro ou de fora, mera questão de impressão, valores, imaginação.
A condição humana, frios? Humanos? Pedras?
O tempo? Morto? Vivo? No relógio? Ele existe...? Talvez nas rugas, mas e no Ser? E quando tudo está estático...morto o tempo está para os que se renovam a cada dia!
Senhor, Senhora, Senhorita!
E quanto estamos naquela fase da vida na qual parece que estamos num deserto...num ponto neutro, onde nada acontece nem dentro nem fora de nós?
E quando tentamos entender um pouco da vida e mais nos desentendemos com ela, enfim...
...e aqueles momentos que parece que algo está entalado na garganta nos asfixiando?
Cuspamos fora!

Ai! E as dívidas, as dores de cotovelo, as doenças.
Os maiores problemas que nos afligem.

Se tu soubesses o quão grande e sublime és.
E o quão pequeno e ínfimo também tu és.
E que mesmo assim és capaz de mudar o mundo...

É sobre isso que escrevo : humanidade.
Os deuses têm inveja de nós , oras!
Escrevo sobre as dores mais fúteis às questões mais complexas da existência humana.
Ás vezes soa com um timbre de melancolia, mas leia com olhos atentos e verá além da poesia!
E dê um crédito a escritora que sofre de depressão e transtorno bipolar ( risos )
O que importa é que ao ler algo desperte, um sentimento, uma lembrança, uma emoção.
O melhor é que leve à subversão de valores e faça ver o mundo com outros olhos.
Ou ao menos que alguém se encontre em minhas palavras.

Chega de me apresentar,
só lendo-me poderão me conhecer.
Só olhando para dentro poderão se conhecer.
Tudo não passa de um olhar...
Para quem sabe, alguém possa se encantar...
E assim, eu não mais me desencantar
com as horas e noites insones que passo escrevendo...
Esperando você, você mesmo que está lendo.
Me encontrar.


Minha Felicidade
Depois de estar cansado de procurar
Aprendi a encontrar
Depois que um vento se opôs a mim
Navego com todos os ventos
(Nietzsche - Gaia Ciência )


Liege Simon Adjuct

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Estrela em queda

Não há mais beleza em meu sorriso
Prefiro a luz do meu silêncio
Ele diz muito mais e enxerga através dos espelhos e das coisas ausentes.
Mortas sem palavras e de promessas pendentes
É onde eu espero o fim de uma estrada que eu caminho...
Sem chegar...
Aquela escada.
Que leva para cima ou para baixo...não importa muito o lugar...
Já ando sem direção agora
E nem sei mais se quero chegar...
O caminho ou qualquer lugar
Tem cheiro de tédio e desilusão...
então deito-me sobre o chão
E espero nos sonhos...
O que não consigo encontrar...
e então espero que eles me encontrem...
Antes que seja tarde demais
Para alguém me salvar.

É nos maiores sorrisos que se escondem as grandes tragédias.
Tu vês como meu lábios o projetam , e o quanto meus olhos não enganam?
Queria escrever algo otimista e belo.
Sei que está em algum lugar...
Mas já cansei de procurar
Por hoje
Quero apenas me deitar.
Deixe que eu me vá...
Deixe que eu me vá.
Assim será mais fácil
Assim terá mais honra
Mais beleza...do que se eu ficar
Sem certeza
De que conseguirei me curar...
Dessa pavorosa tristeza
que roubou qualquer coisa do meu olhar.


Na saúde ou na doença
Nem comigo quero ficar...por isso nunca fiz promessas
Para depois as quebrar
Deixei sempre recados , alguns dizendo que eu iria voltar
Procurei respostas
Recebi promessas...que eu preferi negar
Para ficar apenas a intensão
De algo que eu sei
Que também iria se quebrar.

Por isso nunca gostei das palavras assim ditas , entregues como frágeis espelhos distorcidos num momento de irracionalidade.
As pessoas deixam-se mudar até as coisas que deviam ser fixas. A palavra e a promessa.
Mudam o que não deviam mudar...
E inflexíveis gessos nas asas.. eu acho até cômico e trágico – não podem nem voar!
Como eu que tenho no coração agora apenas asas...grandes asas para não mais me apegar
à palavras , enganos e promessas.
Por isso , nunca mais iriei me quebrar.

A minha grande promessa não foi feita a pessoas
E sim às estrelas.Disse que deixaria um legado a contemplar...
E parece ironia , pois será um legado de palavras
Para que qualquer pessoa possa encontrar
Tantos ditos de tristeza ou de mágoa
E também de alegria e vitória
Mas onde reside minha glória
São nas palavras de subversão
Das minhas angústias medos
Da minha própria condição.
Que se eleva para os céus...junto das prometidas estrelas.
É onde quero morar...
E cair...numa bela noite...
deixando um risco no ar.
Enfim poderei partir...

[quem sabe quantos pedidos farão ao ver a minha estrela cair...]

LiEGE

terça-feira, 17 de março de 2009

Detalhes

Hum...cheiro de capuccino se mistura com a fumaça de seda do cigarro...
O gosto é aveludado, docemente amargo.
O dia é claro, nublado...
e venta. [ Deus está no vento ]

O lugar? Uma grande janela de madeira dando vista para umas poucas casas.
[Isso não impede que meu pensamento transcenda esses tijolos]

O som? No ritmo certo, sempre.

Nas mãos além do cigarro? Oscar Wilde mofado. Cheiro de livro de sebo, usado, lido, mastigado, fatigado : relido.

E é no segundo que a ultima gota de capuccino bambeia nos meus lábios.
Que a braza queima suavemente e o cheiro do tabaco.
É no momento que meus olhos descansam no acaso com total descaso...
...nesses curtos e simples momentos quase inotáveis, neles eu me encontro.
[Um pouco de paz.]
Aquela integridade que a gente costuma deixar poraí nas esquinas da vida.

Solidão? Macia...necessária.

Assim a tarde passa, a noite chega, a musica muda, o cinzeiro enche.
Dias e dias, a mesma janela...
O mesmo quarto...
O mesmo hábito...
E um protagonista diferente.

Todos eles sou eu.
Absoluta sinestesia.

[...que me integro catando esses detalhes de prazer quase banal...quase despercebido, alí...no piscar de olhos. Meus detalhes...meus detalhes...
Tão meus...que adoraria compartilhar com alguém, porque sei que eles continuariam sendo meus....e eu não iria mais me perder poraí desamando a vida das coisas ingênuas]

Liege

domingo, 8 de março de 2009

Inconsciência

De tantas pessoas que perdoei...
Dessa vez dependo do seu perdão.
Dessa vez eu errei
sem saber.

Sei que você teve pouco tempo para me conhecer.

Essa é minha ultima chance.
Então releve esse instante, para que eu volte a viver.

Não consigo dormir, não consigo comer.

Só consigo pensar em você.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Xadrez

Não consigo dormir, meu remédio já não faz mais efeito.
Qual será o problema?
Por que as coisas me afligem nos horários mais vazios?
Não poder ligar para ninguém...

Contar.

Me disseram para eu ser eu mesma sempre.
Levo isso ao pé da letra e me ferro...porque ta todo mundo cheio de armaduras e armados até os dentes.Quando você quer apenas conversar, eles te colocam num tabuleiro de xadrez.
Eu não gosto de guerras assim.
Eu não tenho armas, nem máscaras, nem armaduras...
Só um tanto de palavras sinceras.

Ser ou não Ser , eis a questão...