segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Agulhas

Tatuei um pequeno beija-flor na minha barriga sobre um jardim de lótus...
Ele não será vermelho, mas será colorido, pintado...com agulhas.

Quantas vezes terei que me lembrar da minha natureza...imersa na multidão de incolores, eu , a única policromática caminha sozinha na multidão de sorrisos vazios e embriagados.
Não quero ser crítica, prometi guardar somente pra mim a visão do inferno na multidão de zumbis.

Isso tudo para lembrar quem eu sou.
Tantos normais fingindo de loucos. Eu, louca, fingindo de normal.

Mas eu me pinto, mais e mais, mais estranha, mais bizarra.
Mais misteriosa, mais eu, singular.
Me orgulho...meu psiquiatra e ''mestre'' diria para eu não me pintar senão meu destino seria ser banido da multidão.
Não, ele não conhece meus modos de agir...como um príncipe de maquiavel.
Quando eu quero, eu mesmo me segrego.
Quando eu quero, eu mesma me agrego.

Tem lugar que vale a pena, outros não.
Mas sempre serei aquela.
Louca.

Mas feliz, orgulhosa, independente.
Amando e respeitando meus amigos, procurando contribuir com a felicidade de quem merece.
O resto que não vale a pena merece o descarto bruto.
Existe gente que se joga no buraco dos meus conceitos por coisas pequenas.
E outros que crescem por coisas tão pequenas quanto.

E eu?
Continuo sorrindo, de cabelos vermelhos, tatuada, atrapalhada, falando demais, brincando demais, fazendo o que ninguém faria, sempre com meus amontoados de livros rabiscados, e cigarros, aquela coisa tão estranha pequena e ocultamente transparente.
Orulho-me disso, dessa falta de jogos...[apesar de amar jogar um xadrez]
Dessa falta de máscaras.

Nesse teatro, quem sou?
A observadora.

Sempre na espreita, como um lobo...farejando.Sinto esse cheiro de podridão fácil.
Também, meus caros, com tantas pancadas eu deveria aprender a ser mais astuta.
Aprendi.

Depois de tanto esmagar minha auto estima, agora orgulho-me disso que sou sem medidas, ate parecer incoveniente.

Mas sei de todos meus erros, falhas e de cada parte de mim que apodreceu.
Sei que não fui capaz de respeitar e manter o maior tesouro da minha vida.
Fui medíocre, falsa e tudo de pior com quem não merecia.
E tive o troco, a terra girou, o mundo deu voltas e eu paguei olho por olho, dente por dente cada segundo que causei. Pago com honra, eu merecia.

Então com perdas e ganhos,
a brisa do vento, verde dos campos.
Eu, pássaro pintado, eternamente único...quase um lobo solitário lendo sobre política.
Segregado e agregado, reconheço meu destino.

Conheça-te a ti mesmo.

Eu me conheço. Cada dia.
E você que se esquece, que muda, que apaga suas cores, que se agrega a multidão de zumbis e cascas.Você normal que se finge de louco, no fundo quer fazer parte dos risos vazios por medo de levar o peso de ser quem tu és.Digo isso a todos e a ninguém.
Como Zaratustra dizia.
''also sprach zaratrustra, eine buch fur alles und keine''
[Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém.]


''Torne-te quem tu és''


E quantas agulhas hão de marcar meu corpo lembrando-me de quem sou?
Dor e Cor.

Eu escolho. Eu assumo. Não tenho medo.
Estou rindo sempre do desespero.

Como dizia o rei espartando quando falaram que flechas iriam tampar o céu:
- Então lutaremos na sombra.

Liege
Eine rot blume! :)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sonneuntergang

O pequeno príncipe conversou com a serpente....ela lhe prometeu voltar pra casa.
Abandonou muita coisa importante...e seu próprio corpinho precário.
Ele apenas tombou na areia como uma folha que cai levemente ao sonneuntergang (por-do sol).
Eu sempre tentei explicar a característica dos pássaros: rápidos, velozes, fugazes, solitários, frágeis , corajosos, ambiciosos...como se nenhuma altura fosse o bastante...como ícaro, nós, pássaros cairemos um dia do lugar mais alto...o chão se espatifará como um espelho.
Destino de pássaros.

Eu já tive um...ficou na minha gaiola alguns dias depois fugiu. Deu aquele vazio no meu coração...eu ia alimentá-lo todos os dias e ouvia ele cantar.
Depois descobri que ele prefere voar no risco e viver na iminência de morrer de fome do que ficar numa gaiola. Ele sente falta de mim...mas a natureza de cada um fala mais forte, um dia ela simplesmente grita e se você não ouve é como um suicídio pior dos que eu já tentei.

Já estive no buraco diversas vezes.
Dessa vez alguém me tirou de lá, pela primeira vez alguém me salvou.
Disso eu nunca vou esquecer, sei que ninguém mais vai me salvar se eu cair, eu levantarei sozinha...mas dessa vez não sentirei ódio de ninguém porque me lembrarei de você...e eu não posso sempre depender de alguém para me salvar, mas foi bom ao menos uma vez...foi muito bom...acho que eu nunca fui tão feliz.

Mas não posso ficar pra sempre...eu queria.
Minha natureza não deixa.
Ninguém vai entender.

Como ninguém entende muito porque o pequeno príncipe foi embora.