sexta-feira, 20 de junho de 2008

Pétalas


Dos tempos rudes e cruéis guardos marcas fundas em minha casca.
Me perguntam de onde vem o que sinto e o que sou.
Eu, refletindo sobre a linha que costura as coisas...acabo costurando minha pele e meus dedos.
Perdendo-me nas cordas rígidas e nas montanhas íngremes dos meus sonhos inalcançáveis.
Perdendo gotas de sobrevivência...e secando, morrendo aos poucos ao chorar minhas palavras sobre um belo mundo que quero construir...chorar as angústias do belo mundo que quero destruir.

Eu sem te dizer vou te contando.
Sobre um caminho sem marcas no chão.
Nem placas
Para que você vá apenas voando...
Pelos mundo das idéias que não podem ser ditas.

Derramei todas minhas angústias e palavras amarguradas
Coloquei minha ira nas coisas delicadas
Amarguras e fel, dei dizendo que são águas...enquanto você sofre na cruz.
Eu fui capaz de cortar seu coração com a lança da verdade.

Paradoxalmente também trouxe aquele pouco de luz
Mostrei que as águas sustentam meu peso com suavidade.
Que que posso reviver as coisas mortas.

Mostrei todo o azedume do meu peito.
Todo o pecado do meu leito.
As injúrias que guardei.
Os sonhos que matei.
As vezes que suicidei.

Todo fundo de poço que encontrei.
Toda desgraça que busquei.

Somente para descobrir
A velocidade que cheguei, a força que subi...os ventos que cortei.Os olhos que atravessei...todas as perguntas que fiz.As virtudes que conquistei.
Das batalhas que não recuei, dos estardartes que ergui.
Das vitórias que perdi...para não pisar nos corpos vivos jogados nos campos de batalha.

Tenho que te contar,
também!
Sobre as minhas doenças que não curei.
Sobre o deserto na qual caminhei.
Dos ossos meus jogados que encontrei.
Do meu esqueleto, que sozinha, montei.
Da morte que enfrentei.
Do medo que recusei.

Queria te falar sobre
As facadas que tomei...
das vezes que voei, do tanto que renasci.
Das histórias alegres que vivi.
Dos desejos, dos sonhos, dos medos, dos segredos.

Do pássaro que sou
Da leveza do meu corpo
da amplitude do meu vôo
Da paixão dos meus atos
Da alegria implícita em cada fato
Das cores proibidas das minhas penas
De que toda tristeza em mim é apenas ilusão.

Dou isso tudo...isso tudo que sou eu.

Você então entenderia porque vejo a beleza dos pássaros que voam embaixo do chão.
Das árvores que florecem uma vez ao ano.
Das rosas e seus espinhos.
Da liberdade que há dentro das coisas que esvaziam-se poraí.
Que a indiferença é a única prisão.





Dessas palavras desconexas que você não entende.
Não entende porque são muito densas, na qual estou colocando tudo na minha vida,
para dar um momento a você...dar esse momento meu, que eu queria que você sentisse...porque ele vai passar, vai voar...

Por esses momentos eu faço tudo.
E são eles que me levantam.
Eu adoeço tanto...quando me fecho.


E tenho que fazer todo esforço para lembrar daquele caminho que te falei.
O das coisas leves.
Abrindo-se para o mundo sem medo de que as coisas entrem.



E deixando que tudo se vá...




[Dai-me um momento teu]

Liege.




.
Motivo da Rosa


Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

(Cecília Meireles)

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu acho que uma das coisas que eu mais acho bacana em você... é ser aberta e clara. Sem entrelinhas ou meias palavras.
Além de ser intensa.

É bom ler algo seu que tenha vida e esperança ou otimismo. mas ao mesmo tempo é meio obscuro.

Enfim, vc tava bem inspirada

beijos =*