Somente quando você cai...se esfola, se quebra lá embaixo, sente o cheiro fétido da podridão, se alimenta dela...quando você se vê parte da escória humana....somente assim você pode dizer que viu e sentiu de tudo.
Enxergará a própria condição frágil de ser humano.O sabor da condição humana.
Se ele se achava superior, verá que há grande semelhança entre eles e os outros: o sofrimento, a decadência, a fragilidade, a vulnerabilidade.
Outros mal tocam na sujeira e já sabem que precisam sair.
Muitos caem muitas vezes em vários poços.
E quantos tolos inocentes acham que esse é o modo de sair?
Sobem na corda...e lá do alto ela se rompe.
Porque ninguém sai do poço com ajuda ou dependência de uma corda , de alguém.
Que você abra os braços e escale, que se esfole...que a carne viva apareça, que o sangue escorra, que o suor arda.
Ver a luz perto,engolir a dor, a preguiça, o desânimo, o choro, a angústia...o que for...engolir, digerir e transformar em força para subir mais e mais.
É provável que joguem muito lixo no seu buraco.
Nada disso importa.
É melhor do que muitos prazeres da vida.
E vicia , escalar vicia.
Seja o poço...seja a montanha que se ergue depois que você sai.
E você passa a ver tudo com outros olhos.
O Pôr-do-sol.
O escuro não amedronta mais quem já esteve no buraco.
Quem perde tudo.
E o nascer do sol se torna singular.
Cada nascer é único.
Você sorri, cheira a podridão com coragem, saboreia o gosto do fim do mundo.
E sobe.
ou o buraco te ensinará a ser.
A ser nada.
Só quem morre pode nascer.
Isso é uma das faces da felicidade.
Subverta sua própria condição.
[ Para um amigo que se encontra agora lá no fundo.Para vários amigos que estiveram lá...para quem ler.Para que eu nunca esqueça nos lugares por onde andei.]
3 comentários:
Acredito no fundo do poço e acredito na grande maioria das suas palavras. Mas acho que falte aí uma perspectiva diferente.
O renascimento é algo curioso, e escalar esse poço nada mais é do que crescer novamente, alcançar a maturidade ralandos suas unhas na parede ou rasgando seus punhos na corda.
É, não é a toa que a melhor fase literária de Oscar Wilde foi quando ele visitou o tão bem definido fundo do poço...
;D
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