quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Lavoura Arcaica

"O tempo, o tempo...
Esse algoz às vezes suave, às vezes mais terrível.
Demônio absoluto conferindo qualidade a todas as coisas.
É ele ainda, hoje e sempre, quem decide.
É por isso a quem me curvo cheio de medo e erguido em suspense me perguntando qual o momento... qual o momento preciso da transposição.
Que instante... que instante terrível é esse que marca o salto.
Que massa de vento?! Que fundo de espaço concorrem para levar ao limite? O limite em que as coisas já desprovidas de vibração deixam de ser simplesmente vida na corrente do dia-a-dia, para ser vida nos subterrâneos da memória..."

Lavoura Arcaica - Raduan Nassar

Um comentário:

Unknown disse...

Lavoura Arcaica, uma obra-prima vista quase que por acaso, tal qual um quadro antigo e muito valioso, achado no fundo do sótão.

Livro: A idade da razão (Sartre)

Pode ser um trecho de um futuro livro meu...

Desalento. Há muito não ouvia essa palavra. Mas foi a que lhe veio naquele instante. Um misto de decepção quase esperada e incredulidade, embrulhada por uma esperança morta, assassinada ali mesmo, em seus braços, diante de seus olhos. Decidiu que não pensaria, falava a si mesma que não valia a pena, já estava superado. Mas sentia, e no que sentia, pensava. Concluiu que a própria resolução de não pensar, por si só, já estava impregnada do pensamento que buscava evitar. Tinha que se ocupar. Levantou-se da cama. Olhou o quarto e seus objetos, abriu a janela, mas a claridade foi muita, a incomodou. Puxou a cortina até a metade, conciliando o desejo e a necessidade. Mudou de roupa encostada ao canto, assim se sentia protegida e quase livre. Sentou na cama, abaixou o tronco, mãos que não sabiam se apertavam ou amparavam cada um dos lados de sua cabeça. Olhos ao chão, via seus pés. Lembrou que podia ser três horas da tarde, e que “três horas é sempre muito tarde ou muito cedo para o que se quer fazer” . O relógio marcava três e doze. Um café. Vou fazer um café. Tomou o café com gosto, inspirando forte para sentir seu cheiro. Não pôde evitar de pensar no absurdo do que havia acontecido. De certa forma cumpriu o esperado, mas a forma como veio tornou-lhe meio absurdo, bizarro. E esse misto de algo esperado e ao mesmo tempo imprevisto é que lhe deixava assim difusa, diferida, desalentada.

Natureza: insone.

Me identifiquei com o blog, escrevo apenas pra deixar um oi.

LM