quarta-feira, 23 de julho de 2008

Naufrágio




Aquela coisa sabia nadar quando caiu no mar.
E afundou, novamente, como tantas vezes, igual uma pedra.
O mais incrível é que ela sabia nadar, já tinha aprendido.
Mas ela se deixou afundar, mesmo não querendo afundar...porque ela queria ser salva dessa vez.
Mas é tão estranha a situação, porque ela sabe que é quase impossivel ela ser salva, só que ela certificou-se que cada vez que ela nada para cima e se salva...um efeito colateral surge.Ela entra mais para dentro da sua própria carne, e esquece que existem mais pessoas no mundo , afinal...
no seus afogamentos ela nunca via ninguém para de fato, pular , pega-la e faze-la voltar a respirar...
Jogam boias.Mas ela tá lá no fundo...não tem como chegar às boias.

Então esse momento fica gravado na mente : solidão.


Então, geralmente antes de morrer, ela tira força de algum lugar que não sabemos da onde e nada com forças absolutas e volta pra superfície, respira e grita o toda força dos seus pulmões algum tipo de ira.Um grito que significa muitas coisas. Que diz, sobrevivi...sem vocês.
Como se estivesse nascendo.

É sempre assim, uma queda é tão medonha e confortável.
Ela cai do alto para o mar...é como se entrasse para um útero enorme.
Ela se esconde...fica confortável alí.
Mas morre cada dia que passa.

Então ela tem que renascer.
Como se nascesse de uma mãe morta que não pudesse fazer forças, ela faz a força para sair do buraco. E grita para mostrar que está viva.

E ela sempre diz, a cada vez que morro , a cada vez que tenho que nascer...me torno outra pessoa.
Conquisto coisas boas.
Mas a marca do isolamento, da solidão e do pânico, ninguém tira.
A marca da asfixia.

Ela nunca vai embora...
E elas ficam tão nítidas que ela convive com essas coisas mais do que com as pessoas...
Afinal, não tinha ninguém lá.


Quando ela se recupera, ela se ergue, limpa...e forte, e ilumiada de vigor e energia.
Todos fazem como aqueles mosquitos que grudam nas luzes.
Ao seu redor fica um mar de pessoas.
Mas cada naufrágio que ela sobrevive, menos pessoas ela passa a enxergar.
Então...às vezes muitas pessoas estão ao seu redor, mas ela esqueceu da fisionomia do ser humano...e continua vendo apenas um mar de solidão.


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