domingo, 30 de março de 2008

Aos Caros

Minha face séria e inerte assusta assim como meu sorriso encanta.
Meus sentimentos são aniquilados com pequenas coisas e meus olhos congelados.
E eu não sei o por quê.Como, quando...

Aos deuses peço um pouco de sanidade e equilíbrio...senão não conseguirei sustentar meu corpo nesse mundo sem chão!

Minha cabeça gira frenéticamente.

Eu já não sei a quem recorrer.

Ah! Devolvam meu sorriso, meu equilíbrio...o ar dos meus pulmões!
Devolvam meu coração acelerado, meu sonho infantil...

Devolva meu sonho infantil...

Aquele da Rosa do Pequeno Príncipe.
Na qual ela era a rosa das rosas, a Rosa Especial...

Mas eu não tenho mais posse das minhas coisinhas singelas.
Elas não têm espaço nesse mundo, nem com vocês, meus caros.
Meus sonhos são as coisas nas quais estou pisando...
para ver se construo um futuro que se encaixe.

Adequando-me...

sexta-feira, 28 de março de 2008

Inadequada



Ela acorda atordoada de mais um de seus pesadelos metafóricos...
Era um pássaro que caia vertinosamente numa gaiola de vidro que se partia arrancando suas asas...vidros se quebrando.
Após essa cena ela ja estava em seu corpo....num quarto de vidro transparente cujas pessoas podiam ver tudo que acontecia e riam dela...ela?
estava sentada no chão aflita tentando montar um quebra-cabeças de um labirinto.
só havia isso no quarto e um relógio de cabeça pra baixo.
Juntavam mais pessoas lá foram e riam, julgavam, apontavam.
Após esse sonho surge ela diante uma fila longa...ela tenta entrar na fila mas pessoas a jogam pra fora...e la esta ela agora fora do quarto de vidro vendo um casal feliz e sorridente se abraçando e beijando...amigos entrando e uma festa animada. São os amigos dela, o namorado dela...
e ela esta fora, nem porta pra entrar...sem lugar...sem sono...sem o que fazer...
Ela só queria ser especial, sem mais quedas, sem mais julgamentos, isolamentos, inadequação...
Sem brigas.
Ela só quer ser acolhida.Suas asas doem...ninguém percebe.
Ninguém percebe sua dor nem seu valor.
Estão todos preocupados demais com seus prazeres...todos essas pessoas que ela considera muito.
Quem vai notar o valor de um pássaro pintado?

- Matem-no.

terça-feira, 4 de março de 2008

Lugar Errado




Tudo parecia normal.Apenas parecia...
Veja só, as horas passavam de acordo com os minutos e os giros da tera em torno de si e do sol.As pessoas andavam, comiam, riam, choravam, faziam sexo, se matavam - coisa de ser humano -. Enfim.Ela trabalhava, ia para escola, comia...respirava.Conversava com pessoas...
Mas nem tudo era tão normal assim quanto parecia e quanto transparecia ao olhar estranho ou ate o olhar íntimo....ninguém podia sentir o que seria uma mente na velocidade da luz como um pássaro em fuga desesperado.Sua mente mudava, girava, oscilava levando suas idéias para todos os lados...suas pupilas mentais e emocionais eram dilatadas para sentir o que ninguém sentia, ela via as coisas que não estavam no foco da cena.
Ela era o foco de uma cena desfoque.
Cena essa distorcida pelos barulhos internos e os barulhos externos dos choques de realidades destoantes se colidindo...ora essa onde é que ela se meteu para tudo ser tão torto?
Ou ela? Porque seria tão irregular?

E nesse caos exótico de uma mente pensante em várias direções divergentes o lado de fora com o passar dos giros em torno do sol pareciam ficar mais agressivos, necessitados de uma postura incondizente com o que se passava ali dentro...
Gritavam quando ela queria silêncio.
Sumiam quando ela queria presença.
Sorriam quando ela queria lágrimas sinceras.

Nada se encaixava!

Era um pássaro vermelho inferrujano num mundo bicolor.
Seu voar não significava nada...seu cantar não fazia sentido algum.

E voando descontente poraí, esbravejando como os corvos...ela bateu de frente a um espelho, e olhou.
Então compreendeu...
Estava ela do lado errado! Aquele não era seu lado....seu lado era outro...
E veja só como o outro lado do espelho é!
E ela pode ver casas de madeira com escadas caracóis...árvores de flores belas.Pode sentir silêncio e barulhos de um mundo feito das mesmas fibras que suas asas.

Estava assim agora, perdida do outro lado...ao menos isso para dar um motivo a tanta coisa absurda que tanta gente criticava como se ela criasse tão bem essa trama.

Então, solitariamente, ela senta-se sob a sombra de uma dessas grandes árvores do parque municipal...perto de pombos que voam.Ascende um cigarro...e fuma vagarosamente olhando para o céu, quando uma gata negra se aproxima roçando em suas pernas...a garota apenas sorri com os lábios sem olhar....e nesse momento uma foto é tirada.Quando ela já não sorri mais...quando o gato senta-se meditativo ao seu lado naquelas posições de gato que faz a gente entender porque gatos são tão elegantes e enigmáticos.

A foto fica assim.
O Cenário fica assim.
Nada muda.




Apenas seu pulmão se impregna de ingredientes tóxicos.






Mas ali é tão silencioso.



.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Dos Pássaros sem onde pousar

Era um pássaro rubro cujas penas pareciam arder ao sol.
Desta vez ele ultrapassava desertos.
Mas ja estivera sobre mares
terras férteis
sobrevoando o caos urbano
no subsolo
voando em sonhos
além-céu

Este pássaro conhecia cada pedacinho do mundo...mas queria ir além, queria voar na alma dos seres humanos...penetrar seus corações de ferro.
E fazia isso...e era onde o deserto era mais árido e o sol mais cruel.

E pior...não havia onde pousar.
Ele batia asas freneticamente...
o solo era muito quente.

Há muito a pequena ave vermelha busca onde pousar...um lugar que não a sufoque, que não a machuque...que não vá embora levando o poleiro de descanso.

Sim, ela sabia voar muito bem...

Mas os céus são um tanto solitários
e os firmamentos um tanto instáveis.

Por isso ela tinha tanta vontade de parar como beija-flor, no ar...
mas não seria o suficiente...
Ela queria - já que nada parecia satisfaze-la - sumir.
Voar para cima eternamente e encontrar com a vó Lua.

E o que ela queria na verdade era bem pouco:
Uma varanda para pousar todos os dias...onde alguem estivesse à disposição de ouvi-la cantar.
Acariciá-la.
Sem machucar.
Sem gaiolas...
Sem armadilhas.

Era só isso.