terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Ignorância

Eu construí meu mundo de cabeça pra baixo.
Antes eu não tinha parâmetros para compara-lo e dizer em qual direção eu estava indo...
As vezes eu procurava parâmetros em religiôes e modos de vida de certa forma rígidos e estipulados para ter a vaga sensação de ter uma direção pra seguir.
E eu fiz foi sempre me perder em direções que nada tinham a ver com a minha vida.
Fiz isso várias vezes...

Procurei a liberdade achando que eu vivia na dependência e agora eu descobri que eu vivia era na absoluta solidão.
Acreditando que eu não podia mais me vincular a nada nem a ninguém.
Que essa história toda era conto de fadas...
Eu nunca amei ninguém de fato eu acho.
Nunca de fato fiz parte de nada.
Nunca tive continuidade de nada...nem com ninguém.

E eu achava que a solução era retirar meu direito de amar...
de gostar, de sonhar, de querer o melhor...
Por medo.
E por achar que esse era o caminho certo.
E eu fui me estirpando tudo que eu já quase não tinha.
Daí de fato perdi a liberdade.Tirei todos meus direitos eu acho.

Talvez por isso muita gente diga com convicção que eu não passo o sentimento de amor.
Nem de continuidade...nem de segurança.
Talvez por isso ultimamente eu andei tendo um papel estranho na vida das pessoas...de coisa passageira, à margem...fora.
Porque na verdade antes de qualquer pessoa me expulsar ou me limitar...ou me dar um lugar...antes disso eu já não permitia ninguém me ter, nem ter seu lugar de fato dentro de mim.
E eu achava que dessa maneira eu ia me proteger de desilusões...e a grande falácia do emu método confuso e contraditório foi ver que isso não me protegeu de nada...e que eu sofri do mesmo jeito como se realmente estivesse me desiludindo ou perdendo algo que eu nunca tive. E as pessoas que se vão não sentem falta da parte de mim que eu nunca as dei.

Eu fico me sentindo inadequada e sem lugar na vida de todos.
Como se ninguém quisesse assumir que eu exista de fato para elas...e minha solidão de nascença crescia se agregando a solidão de fato...a solidão absoluta eté abranger todos os demais tipos de solidão.
Na verdade eu acho que ninguém me teve...talvez por isso ninguém pode de fato me assumir.
E quem me assumia eu estava caótica demais nesse meu mundo desencontrado para perceber.
Então eu perdia tudo sem perceber.
Só aumentando esse meu espaço vazio e lugares em falta.

Eu nunca soube amar.
Nunca me permiti amar por muito tempo.
Nunca permaneci no mesmo lugar por muito tempo, por vários motivos...eu deixava tudo me levar...e levando embora o pouco que eu tinha sem perceber.
Eu perdia e perdia...
Sem me dar conta de nada.
Um desfalque grande demais.

Da mais absoluta ignorância e hipocrisia eu fiz parte.
Me anulei de todos os modos possíveis embusca de me encontrar.
Perdi tanto tempo.Em batalhas de mentira...com pessoas atraídas por minha ausência...pessoas que não queriam ninguém se algomeravam ao meu redor atraídos por esse vazio de pessoa que havia em mim...então sobrava apenas uma casca pensante com um mundo revirado, sem parâmetros, sem verdade...
Afundando na própria lama.
E me afundavam...

Eu os culpei de tudo que agora me condeno.
Covardia eu tenho de me limitar a não desejar o melhor por medo.
Hipocrisia por acusar comportamentos que existiam em mim.
Ignorância da minha própria miséria.
Ausência da minha ausência.
Uso do meu uso...
Objeto por que sem amor tudo é objeto.

Eu fingi que sentia pra mim mesma.
E ainda sofria por ter essa ilusão ferida.
E chorei por tanta gente que eu não amei.

Era só um idéia falsa de amor?
Um esboço distorcido desses sentimentos nobres.
Era esboço pois não tinham alma e eram muito limitados e inconstantes.

Então eu fazia vínculos por todos os lados.
Alguns que valiam a pena foram confundidos com os vinculos com o nada dentro de várias pessoas que conheci.
Umas me deram esse nada de presente...no meio deles eu ganhei tudo de outras...
Mas foram pro mesmo buraco da minha ausência inocente.

E eu entrava em pânico quando não tinah mais caminho para seguir...e sem valor, moral, ideal para acreditar...comparar, ponderar.
Sem nada , nada para me guiar...
E achei que isso era normal.

Banalizei minha miséria, meu mal estar, minha trsiteza, solidão.
Achei que era tudo normal e que não existia outro modo de existir.

E dentro das coisas que eu tentava me apegar para não sumir a única coisa sólida que encontrei foram essas mágoas que eu mesma criei.

Acho que minha existência então teve como base o desgosto.

Dessa miséria condicionada...eu juro, não percebi nada.
Foi tudo muito inconsciente...quando eu mais a consciência eu buscava!
Eu não menti nunca que amava...
Amei nas condições que eu tinha de amar...como eu podia amar, dentro do que eu acreditava que era amar...e acho que isso não condiz com o resto do mundo.
Porque talvez fosse pequeno e limitado demais...quando eu achava que era tudo.
Esse tudo não supria ninguém...ninguém que passou de verdade na minha vida querendo esse amor.
Me refiro a todos os tipos de amor.
A todas as pessoas.

E então eu nunca recebi nada.
Minha vida nunca foi relacionada.
Aqui sempre fui eu, mais nada.

Quando o que eu realmente quero é me preencher de todas pessoas que gosto...
Eu gosto com muita sinceridade.
Mesmo que seja difícil para qualquer pessoa acreditar no valor do meu afeto e da minha consideração e sentir ao meu lado uma presença fria.
Pois meu gostar é muito sem atitude e cheio de teoria, que vale só pra mim...essa teoria e esse valor não fazem diferença para vida de ninguém...porque ninguém vive de tese...as pessoas querem a prática, e eu também.
A vida é prática...

Então nada adianta eu dizer da sinceridade das coisas poucas que eu dispus.
Mas quero que fique claro que eu não indispus nada com consciência...
Só que isso não desculpa nada, nem tem essa intensão.

Eu só quero dizer que eu entendi o recado.
Mesmo que eu ainda esteja chocada com a minha situação de vazio completo.
Ao menos eu sei um pouco mais da origem disso tudo...
E quando eu em recuperar desse espanto...talvez eu me permita querer o melhor de tudo...
até do pior...e que possa deixar as pessoas confortáveis perto de mim sem que seja pela identificação de dores, traumas...sofrimentos.
Não quero ser mais a companhia só para momentos ruins como eu sempre fui...
e ter relações com base nas dores em comum.
Nos defeitos em comum.
Ter relações com base nos defeitos...nas faltas...

Eu não quero isso para mim nem para ninguém.

Eu quero mesmo é ser a companhia para qualquer momento.
E saber subverter qualquer dor em alegria e bem estar...
Seja com o acolhimento..que é o que sempre fiz...ou com qualquer energia positiva...talvez com a presença de sentimentos de fato...que não sejam meros esboços.

Então talvez assim eu não me sinta só passagem, ou objeto para determinado uso.
Companhia só para determinado momento.

Tenho me sentido muito insignificante para a vida das pessoas como um todo...
em relação a muita gente.
E acho que muita gente se sente insignificante para mim.

Eu achava isso tudo normal.
Ser um momento.
Me via querendo mais das pessoas...
E me culpava por querer demais.

Só que...eu vejo que nada com base em relações incompletas dura ou satisfaz...
As vezes eu, as vezes alguém.

No final, vivendo desse jeito, não fica ninguém.



.

4 comentários:

apart disse...

Encarando os monstros, doloroso mas válido. Encontre, marque, defina seu caminho. Como vc mto bem disse, teorias e regimes diferentes pré-determinados não levam ninguém a nada.. entenda o conceito das muletas, muletas podem te levar aos caminhos, mas somente como muletas, não como sapatos, que gastam mas realmente te levam até lá.. os caminhos estão ai.. obscuros, mas é pisando em sua superfície é que vc saberá qual se adere mais ao seus pés....isso as muletas não poderão te dizer... e adorei qdo disse sobre as teses.. a vida é prática, a vida é feita de momentos, ou você foca o texto de um livro de teses, ou vc enxerga o carro atravessando a rua que pode tirar a sua vida.. foque no que realmente irá te fazer sentir viva..................... gostei MTO do seu post de hoje. Você é foda pequena gafanhota, pena que direciona as energias para lados que não trazem retorno, mas essa é a caminhada...pise no solo e sinta qual te faz bem.. sem pensar na teoria do livro ou de alguém que lhe disse e "doutrinou" qual o piso é melhor de se caminhar............

... disse...

Não sei se tu lê mensagens de posts passados e na verdade nem sei muito a seu respeito, talvez você não me conheça e enm nunca vai me conhecer.
Mas o que me fez querer falar(na verdade escrever) de início foi realmente uma identificação de dor e talvez ainda seja, ou talvez seja a simples necessidade de massagear o ego alheio e me iludir acreditando que talvez surja em você uma identificação imediata como surgi em mim quando você surgiu do nada na internet quando tava procurando tudo menos uma pessoa extraordinária.
Fico feliz em saber que ainda existem pessoas assim...
Um beijo!
Prazer e desculpa pela invasão.

*Se bem que não sou tão desconhecido pra tu assim, pelo menos tu já sabe meu nome...

Fernando disse...

Se anda insatizfeita com o que acontece, ano novo é sempre um bom momento para começar algo novo.

Unknown disse...

Decidi: vou viver de forma corajosa. Esse é o meu legado para mim, é o que eu me devo, é o que eu me imponho e é o meu desejo. É o que preciso para me olhar no espelho com orgulho. É o que fará com que, ao final, esboce um sorriso e conclua que o caminho foi bem percorrido. Resolvi, então, testar meus limites. Como? Abrindo mão de tudo que me gerava segurança (até porque isso é ilusão).
Assim, optei pelo mais difícil, ao invés do mais fácil. Optei pela solidão, ao invés do relacionamento morno. Renunciei ao trabalho rotineiro, limitado e sem-graça, embora rentável. Resolvi arriscar, quis lidar com o aleatório, com o imprevisível.
Assim venho seguindo. Me sinto mais forte, afinal já enfrentei vários de meus piores medos. Ao mesmo tempo, sinto intensamente tudo que foi descrito em seu texto, de forma quase exata, quase perfeita.
E é então que surge a dúvida: será que estou vivendo uma vida realmente corajosa ou simplesmente uma vida fracassada, embaçada por uma ilusão? Afinal, o que é uma vida baseada no não, na ausência, na dor do que podia ter sido?
Evitava o risco, mas, hoje, em geral o adoro, por me fazer sentir vivo. Muito vivo!
No entanto, no plano pessoal, isso continua a ser teoria, não se materializou na prática, não passou do plano da intenção. E a prática é o que importa, como vc mesmo indicou.
Enfim, não tenho respostas, só mais perguntas...
O que enxergo é uma grande dualidade, presente em tudo, em mim e em cada pedaço do mundo...e dentro disso é que surge um incrível paradoxo: seu texto, que revela o sentimento de desconexão, de solidão, fez exurgir, em desconhecidos, um notável sentimento de conexão e a certeza de que uma particular e específica solidão de vários não é o mesmo que a solidão ordinária de um só.
LM